Case study
Marginalização sistemática de jovens refugiados
Estudantes de horário diurno de uma escola, com idades entre os 15 e os 16.
Estudantes de curso vocacional, rapazes e raparigas de 15 e 16 anos. A maioria dos estudantes pertence ao grupo étnico maioritário.
Turma com cerca de 15 a 20 jovens.
Adnan e Savid são dois jovens estudantes refugiados. Vieram para Portugal com as suas famílias e começaram a frequentar uma escola pública, sendo a maioria dos seus colegas Portugueses nativos.
Os dois rapazes não conseguem falar muito bem Português, de modo que os outros jovens também não lhes falam. Na sala-de-aula são deixados de lado nas atividades e nos seus tempos livres muitas vezes gozados, pelo facto de não falarem a língua e pela forma como se vestem, dado serem refugiados. Para além da segregação que sofrem por parte do comportamento de outros jovens, estes rapazes são geralmente culpados por qualquer problema que exista na turma. Em 3 ocasiões estes jovens refugiados foram atacados fisicamente por um grupo de outros jovens que lhes disseram “Muçulmanos vão para casa”, e “Vocês não pertencem aqui” e também “Um bom muçulmano é um muçulmano morto”. Com o tempo a passar os jovens começaram a sentirem-se mais isolados do grupo, sentindo-se ansiosos e tristes, o que afetava o seu estado psicológico e o seu desempenho escolar. A situação começou a tornar-se tão difícil que os jovens ponderam deixar a escola.
Escola diurna técnica. As várias aulas durante o dia incluem disciplinas como as línguas, ciências e humanidades, e as aulas técnicas são relacionadas com as áreas de especialização que pretendem – para serem cozinheiros, eletricistas, canalizadores.
Professores da escola; contudo, psicólogos e trabalhadores sociais, bem como a administração da escola, serão também envolvidos em algumas das atividades propostas
Estabelecimento de uma equipa multidisciplinar na escola constituída por professores, e/ou psicólogos e/ou trabalhadores sociais, bem como representantes da administração escolar, com os objetivos de desenhar e implementar medidas de prevenção sistemáticas e a oposição a certas ações. A equipa deverá considerar mecanismos e medidas que podem ser implementadas a nível individual, do grupo e por níveis escolares.
O impacto será que os incidentes como aquele que é descrito no estudo de caso serão trabalhados de modo sistemático e holístico, facilitando soluções sustentáveis para a prevenção de tal comportamento.
A criação de uma semana para os refugiados dentro da escola deverá contemplar a visualização de vídeos, exibições de fotografias, atividades de caráter cultural e educacional, com o objetivo de aumentar a consciencialização sobre os países das populações refugiadas, compreendendo o que significa ser refugiado, o quão importante é o país anfitrião para a vida, segurança e dignidade de um refugiado e as contribuições positivas que os refugiados podem trazer para o novo país. O objetivo desta ação é alterar as narrativas negativas contra os refugiados, que estão na base de comportamentos violentos e de segregação dos estudantes, tal como no caso descrito. Um elemento chave é que as atividades da semana dos refugiados seja coordenada/liderada pelos próprios jovens, com o apoio dos professores. Colocando os jovens no centro da atividade, a aprendizagem ocorre e ganha-se conhecimento sobre quem é refugiado e o seu contributo para a sociedade, e desenvolvem-se também competências de comunicação e atitudes de solidariedade.
O impacto desta ação é o aumento da consciencialização sobre os refugiados e os seus países de origem e culturas. Tal contribui para se alterarem as narrativas negativas em torno dos refugiados, o que é essencial para trabalhar sobre o comportamento de ódio perante refugiados.
Discussão em sala-de-aula sobre temas relativos à problemática dos refugiados: o que é ser refugiado e o seu papel, a sociedade intercultural, solidariedade e cooperação. Estas discussões em sala-de-aula devem ser coordenadas pelo professor, sendo que: 1. O tema é relevante para uma disciplina em particular (sobretudo literatura, línguas e humanidades) ou 2. Se o professor acredita que o conflito pode estar presente em sala-de-aula. A discussão pode começar com o estabelecimento de pequenos “buzz” grupos (com cerca de 3 pessoas). É de notar que um grupo “buzz” é um grupo pequeno, de intensa discussão, que visa responder a uma questão ou tópico específico. Tal pode incluir: qual o papel dos refugiados na nossa sociedade? Quais são os seus deveres e obrigações? O que é o racismo e o perigo do racismo? O que é o discurso de ódio e quem são as vítimas? Porque é que o bullying ocorre em sala-de-aula? Quem são os alvos? Estes grupos devem reunir durante 15 minutos e depois devem juntar-se em sessão plenária para discutirem as ideias e terem uma discussão aberta seguida de feedback e discussão com o professor sobre os pontos falados e as aprendizagens efetuadas.
Os jovens auferem de um ambiente de segurança em que podem discutir os problemas que os possam preocupar, assuntos que possam não conseguir discutir de forma aberta habitualmente. Esta é uma boa oportunidade para ultrapassar alguns obstáculos e barreiras que resultam de perceções e atitudes intolerantes. Também permite dar voz aos participantes em geral, e permite gerar momentos de realização para as vítimas e perpetradores. Mais ainda, facilita a reflexão crítica sobre temas que podem estar subjacentes ao comportamento negativo que tem perante os pares (através da análise de fenómenos como o racismo e o discurso de ódio), assim promovendo atitudes positivas de modo sustentável.
É imperativo que seja adotada uma abordagem que coloca o estudante no “centro” da discussão e a realização de uma semana dos refugiados facilita o desenvolvimento de competências, conhecimento e atitudes positivas.
Importa ter em mente que alguns jovens (especialmente perpetradores e vítimas), podem estar reticentes em participar nestas atividades no início. Contudo, com um trabalho positivo de apoio pelos professores, estes obstáculos podem ser superados.
É de notar que a resposta à situação inicial pode também ser usada em educação secundária regular e escolas de formação vocacional, com os objetivos de desenvolverem o seu conhecimento, competências e atitudes em termos de aceitação de outras culturas, religiões e grupos étnicos.