Case study
Métodos de ensino durante o período do Ramadão
Formação Vocacional, para adultos, certificação de nível 2 a 3 (QNQ).
Adultos nacionais e estrangeiros (prisioneiros).
Grupo de cerca de 12 estudantes. Os estudantes, após submeterem uma candidatura ao curso na prisão, foram selecionados com base nos critérios de segurança, atitude e motivação. O grupo é composto por indivíduos de origem nacional ou do estrangeiro, com níveis de baixa a média escolaridade. Os estrangeiros são, na sua maioria, muçulmanos.
O nível de conhecimento da língua Portuguesa pelos estrangeiros é média – baixa (A2). A prática religiosa é muito importante para os estudantes muçulmanos.
Estamos no período do Ramadão, que coincide com o último mês do curso de formação para prisioneiros adultos. Os estudantes muçulmanos que participam no curso encontram-se a ter dificuldades no seguimento das aulas e na realização de exercícios de grupo, o que atribuem à fadiga do jejum diurno. Alguns deles declaram mesmo que querem desistir do curso.
Esta situação preocupa os professores do curso, sobretudo em relação ao desempenho escolar do grupo de estudantes e sua preparação para o exame final. Além disso, o contexto cria uma oposição geral dentro de sala-de-aula, sobretudo entre os estudantes não muçulmanos que se sentem injustiçados por esta atitude dos colegas, que consideram ser de descriminação. O tutor do curso decide fazer face ao problema diretamente, no sentido de encontrar uma solução respeitosa para todos, mas que também assegure o sucesso do curso.
Curso de formação vocacional para prisioneiros adultos que pretendem obter uma qualificação profissional que tem uma grande vertente prática.
- Professores especializados em diferentes assuntos.
- Tutor de turma.
- Um professor especializado em Igualdade de Oportunidades.
Discussão entre os professores, diretor do curso e o especialista em Igualdade de Oportunidades, para investigarem o problema.
Identificação de pontos extremos do conflito gerado pelas diferentes posições contrastantes, as posições mais extremas e as dinâmicas do grupo. Identificação de possíveis ações de intervenção e subsequente monitorização dos resultados.
Discussão e debate dentro da turma, de modo a colocar o tema a discussão, as diferentes posições, as dinâmicas do conflito entre grupos e entre estudantes.
Os estudantes estão dispostos a encontrar uma solução porque estão envolvidos na procura dessa solução.
O especialista em Igualdade de Oportunidades realiza uma sessão aprofundada sobre o Ramadão e a sua comparação a outras religiões. Paralelamente, o/a especialista propõe uma intervenção para promover a não discriminação tendo por base a religião, através da apresentação de uma série de estudos de caso, como exemplos de reconciliação entre o trabalho/compromissos da escola e a religião.
Todos os participantes têm um melhor conhecimento de todas as religiões e sentem-se mais preparados para entenderem os sentimentos dos outros.
O diretor responsável pelo grupo, em acordo com os professores, pede aos estudantes para encontrarem uma solução que respeite a liberdade de cada indivíduo. O mesmo relembra aos estudantes as suas responsabilidades e compromissos, em respeito à participação no curso (sob assinatura do Acordo de Formação), assegurando o percurso de formação e a aquisição educativa. Individualmente o tutor entrevista cada estudante que demonstrou uma posição mais rígida de modo a gerir e a resolver o conflito.
Estudantes que têm posições mais rígidas começam a integrar outras perspetivas.
É proposto arranjar atividades educativas alternativas, alterando para a parte de manhã os exercícios práticos e para a parte de tarde as lições teóricas. Isto porque os estudantes muçulmanos acusam mais fadiga da parte de tarde. Em todo o caso, a importância de participar com compromisso e seriedade é reafirmada. O Contrato de Formação é reformulado de modo a salvaguardar o direito à diversidade de cada estudante e os seus deveres durante o curso. No final do Ramadão, está proposta a organização de uma festa, uma oportunidade para todos os estudantes e professores do curso.
Todos os estudantes se sentem integrados e irão manter a sua motivação para a aprendizagem. Os estudantes que não forem muçulmanos também concordam com esta mudança e concordam em ter atividades de aprendizagem que requerem mais atenção da parte de manhã.
Atendendo a esta situação concreta, a organização do curso é revista através do planeamento do cronograma do curso, que tem em consideração o período do Ramadão. Considerando a possível redução horária durante aquele período, um acordo que promove o direito à diversidade é também assinado.
Os estudantes entendem o significado do trabalho e a organização que requere. Tornam-se mais conscientes quer da rigidez, quer da flexibilidade de algumas religiões e tradições e cultura da pátria.
A prisão é um contexto que tem como prioridade o controlo e a segurança, como também procura re-educar e reabilitar os prisioneiros.
O contexto da turma, onde estudantes adultos de diferentes origens e backgrounds estão inseridos, está particularmente exposto a situações de mal-entendidos ou de preconceitos interculturais que podem escalar para situações de conflito.
Entre as causas, podem estar presentes:
- Professores de disciplinas técnicas que, focados na gestão do ensino, não identificam os fatores de risco que podem causar conflitos e intolerância no grupo;
- Estudantes estrangeiros que desenvolvem um sentido de injustiça na prisão e privação dos seus direitos, que os torna agressivos perante os outros e em risco de posições fundamentalistas;
- Estudantes nativos, expostos às mensagens dos media sociais, assentes em estereótipos e preconceitos;
- A vida na prisão é particularmente fértil ao contexto dos conflitos e à oposição das partes.
A consciencialização da necessidade de agir aos níveis organizacional, metodológico e de ensino é importante, de modo a promover o reconhecimento dos direitos comuns e da diversidade. Consequentemente, a cultura de integração e não de oposição deve ser promovida.
É enfatizado que as ações ao nível organizacional devem ser previamente partilhadas pelos trabalhadores penitenciários/da prisão, de modo a serem definidas regras, aplicáveis ao contexto. A proposta é também de disseminar estas regras entre os estrangeiros, nas atividades dentro da instituição.
O seguinte processo pode seguir estes passos:
- Questionário e análise do problema;
- Coordenação entre os professores e o especialista em Igualdade de Oportunidades;
- Abertura a discussão dentro do grupo;
- Ação de formação de suporte;
- Mediação;
- Reorganização do ensino;
- Revisão da estrutura do curso.